Ao sair de casa, uma senhora pediu ao guarda que cuidava da segurança, que ficasse alerta e atento, pois diversos assaltos haviam ocorrido naquela área. Quando ela retornou, sua casa havia sido assaltada. Imediatamente, dirigiu-se ao guarda: “Eu lhe pedi que ficasse atento a ladrões. Você falhou comigo!”
“Mas eu estava atento!” Respondeu o guarda. “Vi os ladrões entrando na sua casa, e me mantive observando ‘ladrões entrando, ladrões entrando’. Depois, eu os vi sair com as suas joias, e atentamente observei ‘joias indo embora’. Em seguida, eu os vi entrando novamente em sua casa e saindo com seu carro, e atentamente me mantive observando: ‘carro sendo roubado’. Eu me mantive atento, senhora, exatamente como havia me comprometido.”
Com certeza, simplesmente manter-se atento à observação não é suficiente!
A difusão das práticas meditativas não pode se confundir com a banalização do mindfulness, em um entendimento equivocado, como se a mente pudesse ser fragmentada em funções isoladas e desconectadas, em um ato que se reduz a sentar, respirar, observar. O treino de mindfulness implica em uma consciência plena sobre o que ocorre na mente.
A prática de mindfulness permite estar atento a todos os processos e estados mentais, visando identificar os padrões de julgamento sobre as sensações e percepções, que resultam em reações e ações. Trata-se de responder conscientemente às experiências, ao invés de reagir automaticamente aos pensamentos e emoções. A reação automática não permite escolha. A resposta é uma ação deliberada e consciente.
Meditar não é um fim em si. As práticas formais de meditação são a mais efetiva forma de cultivar hábitos e estados mentais saudáveis. Porém, para que haja um real progresso, é preciso mantê-los durante os intervalos entre sessões. É necessário cultivar atenção, introspecção e consciência no dia-a-dia, adotando uma conduta que contribua para esse desenvolvimento. O tempo investido durante a prática será um apoio para a vida cotidiana, e da mesma forma, o dia-a-dia se tornará um suporte para a prática formal.
Portanto, ajuste as expectativas da experiência meditativa: meditação não é uma forma de consumo para diminuir stress, tornar-se mais atento, mais feliz. Embora estes sejam impactos resultantes, a meditação é um investimento para restaurar um estado mental natural, saudável e virtuoso. Esta é a real aspiração do praticante.
Regina Migliori
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